- *Por Mark Bonfiglio
Se você possuísse a informação de que toda semana mais de duas mil pessoas morrem em acidentes aéreos, ainda assim você voaria? E se você descobrisse que estes foram os mesmos riscos enfrentados da última vez em que precisou de um hospital? Isso seria motivo para você pensar duas vezes antes de procurar novamente auxílio médico?
De acordo com o US Center for Disease Control and Prevention (CDC) erros médicos são a terceira causa mais comum de morte nos EUA, correspondendo a mais de 250 mil vidas perdidas em 2013. Neste cenário, a dosagem de drogas é um componente significativo, com erros e eventos adversos causados por medicação inadequada respondendo por mais de 124 mil vidas ao ano – mais de duas mil por semana – e custando à saúde cerca de US$ 16 bilhões.
E isto tudo acontecendo em um mercado que já dispõe das mais avançadas ferramentas de suporte à decisão clínica e no qual se investe um volume de recursos superior ao de qualquer outro país do globo. Imagine então como seriam estes números em países menos desenvolvidos. No Brasil, por exemplo, segundo a ANADEM (Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética) 700 mil pessoas são vítimas de erros médicos por ano. E exemplos de que grande parte acontece como resultado de equívocos na prescrição são fartos; a mídia os noticia quase diariamente.
Erros médicos podem ser registrados em vários estágios do processo de tratamento: no momento da prescrição, na ordem de entrada, na dispensa, na administração da droga, ou quando o paciente é instruído a medicar-se em casa. Em qualquer uma destas etapas, existe a possibilidade de se escolher equivocadamente uma terapia de drogas que seja mais danosa do que benéfica ao paciente.
Um recorte em todos os erros médicos passíveis de serem previstos nos EUA mostra o que segue:
– erros de dosagem: 37%
– alergia a drogas e interações: 11%
– erros de dispensação: cerca de 100 ao dia
Uma estimativa plausível fala em 30 a 50 pessoas, a cada mil admissões hospitalares, vivenciando eventos adversos relacionados à medicação. No Brasil, o cenário é ainda mais dramático. Uma pesquisa do Instituto de Biociência (ICB) da USP sobre prescrição de medicamentos em idosos, por exemplo, realizada com base na avaliação de prontuários/prescrições da própria enfermaria da instituição, em um período de cinco meses, identificou problemas em nada menos que 924 destas prescrições, sendo 920 relacionados a erros de medicação.
As pessoas normalmente esperam que uma visita ao hospital tenha um final bem sucedido. Mas, ao contrário disso, em diversas situações essa experiência acaba sendo negativa, culminando, muitas vezes, na perda de uma vida. Para o prestador de cuidados à saúde, que é submetido a um juramento de nunca causar danos, este é um indicador que é simplesmente inaceitável.
O segmento de saúde destaca-se por ser um ambiente de trabalho acelerado, de alta coação. Há urgência no atendimento e pressão para manter a carga de trabalho. Muitas vezes, é um desafio adquirir e processar toda a informação necessária para garantir um atendimento seguro.
Na maior parte das vezes, os profissionais de saúde possuem o treinamento necessário e estão dedicados a garantir que nada de errado ocorra. Porém, as referências sobre os medicamentos mudam rapidamente e manter-se atualizado é muito difícil. Sem acesso a informações frescas, ou sem o benefício de sistemas automáticos de checagem, cria-se um gap na habilidade do profissional em otimizar a segurança no uso da droga adequada.
Efeitos Secundários
É claro que a principal preocupação no que diz respeito a erros de medicação é o eventual dano que possam causar aos pacientes. Há porém importantes efeitos secundários, sentidos pelos hospitais, sistemas de saúde e pelas pessoas que estão no dia a dia do atendimento. Por exemplo, o envolvimento em um erro médico mina completamente a motivação de um profissional. As instituições também perdem muito em credibilidade junto às suas comunidades, o que pode afetar a habilidade da equipe em desempenhar a sua real missão.
São, porém, as consequências financeiras as que causam o efeito mais devastador para uma instituição de saúde. O custo de terapias corretivas, testes adicionais, novas medicações e readmissão hospitalar, necessários para tratar os erros médicos, poderia ser evitado se o erro original não houvesse ocorrido.
E o tempo demandado no tratamento de eventos adversos e readmissões coloca pressão adicional sobre um corpo clínico já bastante estressado, drenam recursos que já são escassos e criam tempos de triagem e de espera ainda maiores para pacientes em circunstância de menos urgência.
O que fazer?
O mais importante a ser feito pelos líderes das instituições hospitalares para reduzir a incidência de erros de medicação é equipar suas equipes com informação atual, relevante e acessível. Médicos, enfermeiros, farmacêuticos e técnicos devem ter acesso a informações seguras sobre as drogas, em uma base consistente. Eles também devem implementar sistemas de checagem, seja por meio de melhorias de processos ou por via da automação, de forma que isto incremente o trabalho destes dedicados profissionais.
Com a adoção e o apoio de sistemas de suporte a decisão clínica direcionados a medicamentos, os profissionais podem receber alertas automáticos diretamente no prontuário eletrônico do paciente (PEP), o que lhes possibilita saber de antemão quando existe uma preocupação relacionada a medicação. Podendo assim fazer uma avaliação e, se necessário, optar por uma recomendação alternativa na hipótese de considerar-se que a terapia de medicação original tem o potencial de criar um evento adverso.
Os clínicos podem também usar as referências de drogas disponíveis nestes sistemas em cada etapa do processo – prescrição, dispensa, administração e educação do paciente – para verificar dosagens e outros aspectos de segurança que auxiliam a prevenir erros de medicação.
Nada substitui um profissional de cuidados com a saúde capaz e bem treinado. Porém, dispor da informação para guiar a medicação segura por todo o processo, assim como o uso de ferramentas eletrônicas sofisticadas que ampliem os seus esforços, pode ter um impacto significativo.
Mark Bonfiglio, BS, PharmD, Vice Presidente de Operações de Conteúdo da Wolters Kluwer Clinical Drug Information
Veridiaana!
Me indigna alguns erros médicos, em que, mesmo tendo sido alertados por familiares, esposos, amigos, ainda assim, com obtusidade, como que, se não soubéssemos do que falamos, prosseguem com a medicação.
Kátia, minha esposa, tem tido, ao longo dos anos, rejeitado o uso constante de certas substâncias. Tem sido assim: usava buscopan; certo dia, apresentou reação adversa; ai, outros remédios com substâncias semelhantes, por óbvio, deveriam ser descartados; mas, há médicos que mesmo tendo a informação, insiste na prescrição.
O que me tira do prumo e do rumo. Agora, todas as vezes que ela toma remédios a base comum da maioria dos remédios anti dor, tem tido reação adversa.
O único que tem estado na lista sem alterações é o ebuprofeno, mas, não sabemos até quando, e o que faremos depois de esgotarem todas as opções!