Na corrida pela banda larga, o Brasil ainda não é ouro

Por Erich Rodrigues *, Presidente da ABRINT (Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações)

Os períodos de Jogos Olímpicos trazem à tona a competitividade, sempre sadia e honesta, e o quanto ela é importante para o desenvolvimento dos esportes. Uma modalidade com dez atletas ou dez equipes no mesmo nível, competindo em condições iguais, é tudo que o público quer assistir. E também é o que a modalidade precisa para se tornar atrativa e se desenvolver cada vez mais.

Esse cenário tem paralelo com outros setores. No mundo dos negócios, quem ganha com a disputa entre as empresas são os clientes/usuários. Na corrida pelo desenvolvimento da banda larga fixa, o Brasil está ficando para trás, porém não está disputando com fortes concorrentes. O País está perdendo para si mesmo.

Um estudo recente do Teleco mostra o abismo entre as grandes metrópoles e regiões distantes no quesito acesso à internet de banda larga fixa. O levantamento separou o País em dois grupos: o primeiro representa os 248 municípios onde existiam em 2015 redes de banda larga de alta velocidade de operadoras como a Net, GVT e Vivo (Fibra). Este grupo representa 5% dos municípios, 50% da população e 77% dos acessos banda larga fixa do Brasil há dois anos. O PIB per capita deste grupo (R$ 27,5 mil) é duas vezes maior que do restante do país,  de R$ 13,3 mil.

Os outros 95% dos municípios do País tiveram, em 2015, apenas 38% com velocidade superior a 2 Mbps, enquanto o outro grupo teve 75% acima deste número. Um dos fatores que explicam essa disparidade é a ausência de apoio do poder público para o desenvolvimento das redes de alta velocidade nas pequenas cidades. As grandes operadoras não têm interesse econômico em investir fora das cidades grandes. Quem tem feito esse trabalho são os provedores regionais, preenchendo uma lacuna de mercado não atendida pela Oi, que é a concessionária do serviço telefônico na maior parte do País e naturalmente poderia evoluir as suas redes para o serviço de banda larga com a qualidade e as velocidades que o mercado necessita.

Se até hoje esse investimento não foi feito, agora que a Oi está oficialmente em recuperação judicial é difícil imaginar que a operadora possa fazer frente a esses investimentos no curto e médio prazos. Neste cenário, cresce a importância do trabalho quer os provedores regionais tem feito pelo País afora, inclusive levando fibra óptica na modalidade FTTH (Fiber-to-the-Home – fibra até a casa dos clientes) nas cidades pequenas e médias.

O momento é nosso, mas os desafios são grandes. Hoje temos enormes dificuldades de obter financiamento, a carga tributária é altíssima em um serviço de essencial para o desenvolvimento sócio-econômico e enfrentamos condições muito desiguais para ocupação dos postes, apenas para ficarmos em poucos exemplos.

Fruto do reconhecimento desse trabalho, o governo já percebeu a importância dos provedores regionais para a interiorização da banda larga fixa e prepara ações que devem colocar os provedores como protagonistas desse movimento, criando, por exemplo, um fundo garantidor específico para este mercado.

O fato é que o Brasil não se desenvolverá satisfatoriamente enquanto não houver conexão de alta velocidade em todas as cidades, reduzindo a desigualdade de oportunidades que existe entre os cidadãos das grandes cidades e os que moram no interior.

Como País já percebemos que essa universalização não será feita por três ou quatro empresas – e a recuperação judicial da maior empresa do Brasil comprova isso. É preciso criar condições para que as empresas dos mais diversos portes compitam em condições isonômicas. Da mesma forma que tenistas utilizam o mesmo tipo de raquete, nadadores as mesmas roupas e boxeadores os mesmos tipos de luvas, as empresas precisam ter condições iguais para competirem e oferecer o melhor serviço aos consumidores.

*Por Erich Rodrigues, Presidente da ABRINT (Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações)

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