* Lisandro Sciutto
Quase todo mundo que projeta, constrói, conserta ou dirige automóveis já ouviu falar da trágica situação da instalação defeituosa de airbags nos veículos. Em junho desse ano, uma grande marca de carros estrangeira anunciou um recall envolvendo 325.130 unidades de diferentes modelos de automóveis devido a falhas no airbag. Mesmo com o escopo de recalls se expandindo continuamente, fornecedores de airbag e os fabricantes de automóveis estão se esforçando para identificar porque esses airbags não funcionam como o esperado.
Existem muitas fusões acontecendo na comunidade de fabricantes, e isso resulta em múltiplos fabricantes de equipamentos originais (OEMs, na sigla em inglês) utilizando os mesmos componentes, a partir do mesmo fornecedor, em vários modelos de veículos diferentes. Isso proporciona economias de escala aos fornecedores e melhora as margens de lucro. No entanto, também aumenta as consequências quando um componente defeituoso – como um airbag – se encontra no mix de um veículo maior.
Enquanto as respostas do porquê os airbags não funcionaram corretamente continua esquiva, uma coisa é certa: esses airbags falharam devido à uma complexa combinação de fatores, inclusive o design do airbag, do veículo, e ambiente em que o automóvel estava operando na hora da falha.
Investigações como essas requerem profundidade, eficiência, colaboração e, principalmente, acesso a informações precisas.
Sensores funcionando por tempo demais
Enquanto o acesso a informações precisas de todas as fontes é importante, o acesso à dados gerados a partir do veículo é absolutamente essencial tanto para os fornecedores de automóveis quanto para os OEMs. Esses dados ajudam a resolver defeitos de produtos mais rapidamente, melhora o design de produtos futuros e proporciona otimização do processo de fabricação.
Carros geram muitos dados – em média cerca de 1.3 gigabytes por hora. Essa informação é concebida por dúzias de sensores instalados pelo veículo que capturam e publicam dados de desempenho operacional de componentes críticos, inclusive dos airbags. Análises desses dados coletados pelos sensores podem ajudar fornecedores automotivos e OEMs a diagnosticar mais rapidamente defeitos de produtos. Infelizmente, a pouca análise de dados de veículos hoje é feita apenas pelas OEMs.
Impacto do ecossistema de fabricantes automotivos na solução de problemas
Apesar de as tecnologias de análise de dados estarem disponíveis para uso de qualquer empresa, todos os dados de sensores de veículos pertencem às OEMs. Essas informações não são coletadas ou armazenadas de uma forma que seja fácil de compartilhar com os fornecedores, o que significa que as OEMs são as únicas com acesso para analisar os dados de veículos. A impossibilidade dos fornecedores automotivos de acessar esses dados os impede de utilizar ferramentas poderosas de análise para detecção de defeitos e melhoria de produtos. Os fornecedores dependem de resumos de análises feitas pelas OEMs para cada marca e modelo em que os fabricantes de automóveis têm uma das suas peças instaladas. Porém, as OEMs podem escolher livremente se – e quando – vão compartilhar essas informações com os fornecedores.
Mas, e se o fornecedor de airbag tivesse tanto o acesso quanto as ferramentas com ele para analisar os dados de cada marca e modelo do veículo onde seus produtos foram instalados em todos os fabricantes de carros? Ele logo poderia ver tendências e padrões que poderiam oferecer insights sobre o porquê esses airbags falharam.
Uma situação ainda melhor seria se o fabricante de airbag tivesse uma real experiência de previsão com acesso à dados em tempo real, e utilizasse ferramentas de analytics para monitorar proativamente o desempenho de suas partes juntamente com os processos de seus fabricantes para antecipar problemas antes que eles causassem danos. Ao invés de analisar toda a informação depois que uma peça falha – pressupondo que eles recebem todos os dados – o fornecedor teria a capacidade de identificar um potencial defeito antes que acontecesse, salvando vidas e reduzindo custos.
O poder do business intelligence não começa e termina apenas na previsão ou gerenciamento de incidentes. A informação é obtida a partir da observação de tendências e padrões que podem levar a uma revogação de peças ou falha, que podem também informar ajustes a coisas no começo da supply chain – incluindo design, materiais e processos. Isso é possível quando fornecedores automotivos têm acesso à informação e integram dados de seu business intelligence e processos de supply chain no sistema de ERP.
Hoje existem sistemas e ferramentas para transformar os complexos e exorbitantes dados em insights significativos, preditivos e úteis. Ferramentas de analytics têm o poder de ajudar tanto fornecedores automotivos quanto OEMs a eficientemente melhorar a qualidade de produtos enquanto economiza em custos e preserva a reputação da empresa. Agora é a hora de começar a garantir a todas as OEMs e fornecedores automotivos acesso aos dados necessários para executarem análises ricas e necessárias para eficientes soluções de problemas.
* Lisandro Sciutto, diretor de produtos da Infor LATAM